Do Site do Pastor
Veja mais uma mensagem que Edifica
O
apóstolo João dedicou 5 capítulos de seu Evangelho (13-17) às últimas horas
que Jesus passou acompanhado apenas dos discípulos. Era a última Páscoa, a
última refeição, as últimas horas que compartilhavam antes da dramática
prisão, julgamento e crucificação do Senhor.
O
local escolhido foi o Cenáculo, uma sala ampla situada no primeiro andar de
uma residência, previamente, escolhida pelo Senhor (Mc 14. 12-16). Em
ocasiões dessa natureza, desde os tempos mais antigos, era costume
semita oferecer ao visitante ou peregrino uma bacia com água para a
lavagem dos pés antes de achegar-se à mesa para as refeições (Gn 18.4;
19.2). A última lição de
Jesus
Na
época neotestamentária, Connelly diz que se a visita fosse coletiva e o dono
da casa não tivesse condições de cumprir o protocolo, por cortesia, um
componente do grupo, voluntariamente, se apresentava para o serviço (2008,
p. 109).
Mas,
naquela noite, nenhum dos acompanhantes de Jesus desprendeu-se para
o gesto singelo e o artigo objetiva refletir TRÊS RAZÕES possíveis para essa
indiferença e seus desdobramentos inéditos. “Querer ser o maior,
chefe, ainda continua sendo uma poderosa tentação para muitos cristãos”
(Pr José Gonçalves). A última lição de
Jesus
PRIMEIRA RAZÃO:
O convívio dos Doze foi
marcado por constantes disputas: “Começou uma discussão entre os
discípulos acerca de qual deles seria o maior” (Lc 9. 46). Queriam saber
quem teria a primazia no colégio apostólico; uma contenda que perpassou o
período em que estiveram na companhia do Mestre.
SEGUNDA RAZÃO:
A polêmica cresceu, extrapolou o círculo
apostólico e o âmbito terrenal. A esposa de Zebedeu (Salomé) entrou na
querela e rogou a Jesus que seus filhos Tiago e João fossem os eleitos
para estar à sua direita e esquerda no Reino escatológico.
A
atitude da mulher criou um mal estar generalizado, incendiando ainda mais a disputa,
porém, o Mestre descartou a concessão de privilégios especiais no Reino vindouro:
“Esses lugares pertencem àqueles para quem foram preparados por meu Pai”
(Mt. 20. 20-28).
TERCEIRA RAZÃO:
Uma terceira razão para os
discípulos não terem se importado em lavar os pés uns dos outros estaria
na desvalorização da função naqueles dias, uma ação extremamente
humilhante, amiúde, relegada a um servo portador de alguma deficiência
física ou mental, incapaz de prestar outro tipo de serviço, como,
afirma Connelly, já referenciado.
Nessa
trama ardilosa, entende-se por que nenhum deles queria “descer”, “rebaixar-se”
e banhar os pés uns dos outros.
“Nunca
seremos aptos para o serviço de Deus, se não olharmos para além desta vida
passageira” (João Calvino).
… A
última lição de Jesus
O
gesto de cortesia tornou-se vergonhoso e desprezível naqueles dias, porém, o Mestre
resgatou-o em seu ministério (Lc 7. 44), deu-lhe ressignificado, atribuiu-lhe valor
de grandeza suprema, imensurável e transcendental em seu Reino:
1.
No Reino de Deus, bem aventurados (felizes, abençoados) são os humildes de espírito,
os mansos, os famintos, os sedentos de justiça, os que choram (penitentes),
os misericordiosos (Mt 5);
2. No Reino de Deus, “Se alguém quer ser o primeiro, será o último e
servo de todos” (Mc 9. 35);
3. “Aquele que se humilhar como [uma] criança, esse é o maior no Reino
dos Céus”(Mt. 18.4);
4. No Reino de Deus, as coisas fracas confundem as fortes, “Deus escolheu
as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para
aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele” (1 Co
1. 27-29). A última lição de
Jesus
Entretanto,
no imaginário dos Doze, o Reino do Senhor comportaria a reprodução da estrutura
social ainda vigente em nossos dias, onde, maior é quem detém o poder político,
econômico ou mesmo religioso, tem status social, domina o semelhante.
Mesmo
assim, o Mestre não reprendeu seus pupilos, não ordenou que fizessem o procedimento
esperado, não cancelou a refeição.
Ele
é o “Servo do Senhor”, humilde, manso, obediente (Is 42) e, calmamente perguntou:
“Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve: Porventura, não é quem
está à mesa? Pois, no meio de vós eu sou como quem serve” (Lc 22. 27).
Conforme
uma tradição judaica, os pupilos de um rabino tinham a obrigação de prestar-lhe
os mesmos serviços de um escravo, exceto, “a lavagem de seus pés, que era
serviço por demais braçal e humilde”. Então, Jesus decidiu fazer por seus discípulos
o que nem mesmo era esperado deles em seu favor (Robert Gundry: Panorama
do Novo Testamento, p. 210).
A ÚLTIMA LIÇÃO DE JESUS
Para perplexidade geral, o Senhor
“Levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da
cintura [atitude servil]. Depois disso, derramou água numa bacia e começou
a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava
em volta de sua cintura” (Jo 13. 4, 5, Novo testamento NVI).
Com
o gesto serviçal Jesus rompeu mais um paradigma cultural na relação mestre-discípulo,
ressignificou o sentido de liderança para a cristandade e confidenciou o que
esperava deles dali em diante: “Vós me chamais o Mestre e Senhor e dizeis bem,
porque eu o sou. Ora se eu, sendo o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também
vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo. 13. 13,14).
“Que
Ele cresça e eu diminua, que Ele apareça e eu me constranja com a sua Glória
e todo o seu amor, infinita humildade, servo de todos os irmãos” (Deigma
Marques). A última lição de
Jesus
Quebrantados,
os discípulos entenderam que Jesus não veio ao mundo para distribuir
benesses e privilégios para alguns. Após a última lição do Mestre estavam aptos
para o querigma evangélico, “A Grande Comissão” (Mt 28. 18-20).
Foram
cheios do Espírito Santo (At 2) e esvaziados da ânsia pelo poder. Entenderam
que não deveriam buscar honrarias humanas, que a glória dos súditos do
Reino encontra-se, unicamente, na cruz do Senhor Jesus Cristo (1 Ts 2. 6;
Gl 6.14). A última lição de
Jesus
Jesus
demonstrou que no Reino de Deus não existe trabalho desonroso ou insignificante.
As tarefas que parecem mais simples, realizadas com amor, são inefáveis
aos olhos do Senhor. Uma bacia com água e uma toalha permanece para nós
como padrão de excelência no serviço aos irmãos.
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