Afundada em uma
longa guerra civil, na desigualdade social, no tribalismo, e no radicalismo,
mais uma vez a Somália permanece entre os dez principais países onde é mais
difícil ser um cristão
Violência, luto e dor têm marcado a
história da Somália há muitas décadas. A estrutura da sociedade é formada por
valores islâmicos e tribais. Somente em 2012 o povo elegeu seu primeiro
presidente, após mais de 20 anos sem um governo central. Por um longo período,
a falta de leis no país abriu espaço para o crescimento do extremismo
religioso. O grupo extremista islâmico Al-Shabaab declarou publicamente que
“quer a Somália livre de cristãos”.
De acordo com o artigo 2 da
Constituição do país, o islã é a religião oficial do Estado e não há espaço
para outras crenças. Além disso, o país é governado pela sharia, lei islâmica,
que também coloca a apostasia (conversão a outras religiões) como prática
ilegal. Mudar de religião não significa apenas uma traição ao islã e à
comunidade muçulmana, significa da mesma maneira uma ruptura com as normas e
valores da sociedade. Em sociedades tribais, este é um crime muito grave.
Aqueles que são suspeitos de serem cristãos recém-convertidos do islamismo são
frequentemente mortos no local em que são descobertos.
Estima-se que o número de cristãos
não passa de 1% da população. A perseguição atinge principalmente a comunidade
de cristãos convertidos do islamismo, impactando também cristãos expatriados ou
migrantes.
Monitoramentos do governo para com os
cristãos estão se intensificando para investigar onde eles se encontram e para
descobrir os envolvidos em apoiar e treinar cristãos e evangelizar muçulmanos.
O Al-Shabaab espiona as companhias de telecomunicação móvel em busca de informações,
para evitar isto, as empresas de telefonia são obrigadas a pagar um imposto
para o grupo impedindo-os de rastrear seus dados.
Hoje existem apenas ruínas dos
antigos edifícios em que a igreja se reunia. Por causa disso, os cristãos se
reúnem em pequenos grupos espalhados por todo o país, correndo grandes riscos.
Eles não podem possuir uma Bíblia por causa do perigo que isso pode colocá-los,
e qualquer tipo de celebração cristã ou encontros são proibidos.
Esse padrão de perseguição é
excepcional, e coloca a Somália em uma categoria de extrema perseguição. Devido
à violência, um número grande de cristãos somalis tenta fugir do país. Mas são
poucos os que conseguem fazê-lo sem serem descobertos.
Ainda assim, a igreja somali
persevera. Entre os momentos mais difíceis de perseguição e execuções, os
cristãos têm-se mantido firmes, se apegando a sua fé secreta. A Portas Abertas
apoia os cristãos do Chifre da África com treinamentos bíblicos, discipulados e
ajuda no desenvolvimento socioeconômico de cristãos que perderam tudo por causa
da sua fé.
Parece impossível
para alguém se converter na Somália, mas nada é impossível para Deus. Um
cristão somali chamado Mohammed, perseguido por causa da sua fé em Jesus, disse
a um parceiro da Portas Abertas por que não desistiu de sua fé. "Só em Cristo tenho paz interior. Apesar de todas as lutas,
de me sentir isolado e ser perseguido, estou em paz. É por isso que eu me apego
a Cristo."
Na maioria dos anos, desde a criação da Classificação da
Perseguição Religiosa em 1993, a Somália aparece entre os dez primeiros países
mais hostis aos cristãos. O que motiva a perseguição religiosa são ao menos
quatro fatores: os dois primeiros históricos e os últimos relacionados ao
radicalismo islâmico e ao governo atual.
O islã já era uma religião estabelecida quando o cristianismo
chegou na região. Os primeiros missionários cristãos chegaram à Somália em
1881. Em quase um século de trabalho, eles conseguiram algumas centenas de
convertidos, até que foram obrigados a se retirar do país em 1974.
Formalmente, há um governo eleito pela população em 2002, o 2º
mais corrupto do mundo. Entretanto, clãs tribais resistem à estrutura
governamental atual e atuam de maneira informal na luta pelo poder. Nesse
processo de governar tentando manter relações com os clãs somalis, o Estado não
tem priorizado a liberdade e direitos dos civis, já que permitem os sentimentos
anticristãos dentro do sistema tribal, demonstrados também na Constituição do
país.
Desde a queda de Ziad Barre, em 1991, a Somália tornou-se um
refúgio seguro para o radicalismo islâmico e tornou-se mais agressiva e
intolerante para com os cristãos. A Somália é uma colcha de retalhos de clãs
religiosos competindo e buscando uma forte identidade islâmica, num contexto de
uma identidade tribal muito forte. Assim, mesmo se o Al-Shabaab mostrar um
declínio temporário a ameaça aos cristãos não diminuirá.
No último ano, a situação parece ter piorado, já que militantes
islâmicos intensificaram sua caça aos cristãos, principalmente os que assumiam
alguma posição de liderança. Há uma forte tendência de que o cristianismo seja
destruído na Somália, beirando o genocídio ou limpeza étnica. Consequentemente,
os cristãos têm de fazer o que podem para manter sua fé em segredo.
A pontuação para a Somália continua muito elevada por causa da
influência dos extremistas islâmicos e clãs tribais. A razão da queda na
pontuação em relação ao ano passado não significa que a situação de segurança
melhorou.
As perspectivas futuras para o país mostram que o extremismo
islâmico, os conflitos tribais e a corrupção continuarão ditando a perseguição
à igreja somali. Militantes do Al-Shabaab permanecerão ativos nas áreas rurais
e nas áreas urbanas o governo continuará restringindo a liberdade dos cristãos.
Atualização: 16/12/2015
Fonte: Portas Abertas
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